A Grande Pirâmide
Esta é a grande pirâmide. A maior das três e a maior construção feita no mundo pelo homem. Trinta
milhões de toneladas de pedras foram arrastadas pelo deserto para formar estes monumentos
cuja acuidade e tamanho dificilmente poderiam ser repetidos hoje. Foram talhadas em calcário
de um branco reluzente e possivelmente com uma enorme capa de ouro no topo. Apesar das muita
pesquisa sobre a sua construção, até agora, poucos fatos concretos explicam porque foram feitas.
Uma nova geração de arqueólogos apresentou evidências que podem explicar crenças da remota
história egípcia. Em particular, nos revelarão o misterioso culto de adoração às estrelas
dos antigos egípcios que sustenta a teoria de um desenho cósmico das enormes estruturas.
Poderia a era moderna da tecnologia descobrir um mundo espiritual no passado.
“Voarei de vocês homens. Não sou da Terra. Sou do céu. Eu me elevei ao céu como uma garça
e beijei o firmamento como um falcão. Eu sou a essência de um deus, o filho de um deus, o
mensageiro de um deus. Aqui, o fiel e amoroso
Osíris
veio na forma das estrelas de
Órion
o belo. Eu vim para assim poder glorificar Órion. Minha alma é uma estrela de ouro e com
ela atravessarei o firmamento para sempre. “
Esta estranha e bela poesia vem de hieróglifos entalhados por antigos egípcios em sarcófagos
e tumbas. Estes textos piramidais são alguns dos mais antigos escritos religiosos que o homem
conhece. Decifrados a mais de 150 anos estão sendo reexaminados à luz de novas teorias sobre
a percepção que os egípcios tinham de seu mundo e das pirâmides.
O período que nos interessa é o início da civilização egípcia. O antigo reinado conhecido
como era das pirâmides e em particular a 4ª dinastia, que durou do ano 2600AC até 2500AC.
Neste curto período foram construídas todas as pirâmides quase perfeitas.
Que visão levou os faraós da 4ª dinastia a buscar tais tamanhos e precisão? Porque os
sucessores da 5ª dinastia se contentaram com isso?
Procurando por pistas
Apesar de estarem em ruínas elas contem uma pista do misterioso logro das pirâmides da quarta
dinastia. Estas pirâmides se encontram em Saqqara, a 16 quilômetros ao sul da grande pirâmide, perto
da antiga capital Memphis. Os construtores das hoje dilapidadas pirâmides conheciam as lendas de seus
antigos ancestrais incluindo o culto às estrelas e a crença de que era uma manifestação dos deuses.
Apesar de seu estado lamentável é a primeira com escritura formal.
Ao contrário das pirâmides da quarta dinastia, que não possuem qualquer inscrição, as pirâmides
destruídas da 5ª dinastia estão repletas de inscrições. Teto coberto de estrelas. É como estar
sob o céu noturno. Constituem o mais antigo corpo de escritos religiosos da história. Estão nas
paredes para ajudar o rei morto em sua jornada até o outro mundo.
Estes são os textos piramidais que acompanhavam a múmia. Fornecendo-lhes os sinais místicos e as
orações que o ajudariam na jornada até o outro mundo. O ato de inscrever uma idéia era mais do
que registrá-la. Tinha um significado mágico. Um feitiço que tinha o poder de garantir que o
sentimento descrito realmente aconteceria.
Esta, por exemplo, é uma serpente decapitada que protege a alma de picadas de serpente. Estes
textos mostram também este símbolo que representa a força da vida e a sua reverência ao deus Atum.
Estes hieróglifos nos falam do faraó se transformando em estrela e viajando para as cintilações.
Este hieróglifo com as 3 linhas verticais simboliza Azobeth, um egípcio de Sírius, a estrela mais
brilhante do firmamento, associada à deusa
Ísis
Nesta forma oval está o nome do rei Unas, a quem se deu vida e é o amado do deus supremo, seu pai,
Atum.
Estes textos piramidais, junto com os antigos papiros conhecidos como o Livro dos Mortos, nos
falam das crenças dos antigos. Eles nos falam como os egípcios achavam ter iniciado a civilização
de seu país milênios antes. O mito da criação dos antigos egípcios se repete em textos piramidais,
tumbas e placas funerárias. Para eles era muito importante e cada faraó o revivia.
"No princípio, Atum-Rá, o grande deus Sol, observou a Terra recém formada e enviou seu neto Osíris
para viver entre os seus habitantes ensinando-lhes a bondade e a civilização. Osíris, que era deus
e homem, andou pela terra do Egito com sua consorte Ísis, transformando a terra em um belo lugar.
Porém
Seth
, irmão de Osíris, por ciúme o assassinou. Cortou
seu corpo em quatorze pedaços e os espalhou por todo o Egito. Ísis, tomada pela tristeza, vagou
pela terra em busca de Osíris. Acabou encontrando todas as partes e unindo-as com tiras de
musselina trouxe seu corpo de volta à vida. Houve tempo suficiente para se colocar sobre ele e
receber sua semente. Osíris ascendeu da terra do Egito deixando Ísis escondida na vegetação do
Nilo. Ísis deu a luz a um filho,
Hórus
, que cresceu para vingar a morte do pai. Ísis tendo cumprido a sua missão na Terra foi juntar-se a
Osíris nas estrelas."
Os antigos egípcios viam as estrelas como o equivalente celestial de sua terra, habitadas pelos deuses
e pelos mortos. O que viam de mais importante na terra era o Nilo e quando observavam o céu noturno, o
que mais se destacava era a Via Láctea. Um cinturão brilhante de estrelas como um arco no céu. Segundo
os egípcios, este era o Nilo celestial. Os egípcios reverenciavam o Nilo que transbordava todo ano
espalhando a fertilidade pela terra. Como o delta era cercado pelo deserto, dependiam deste milagre
anual. Mas como explicar tamanha sorte. A cheia coincidia com a aparição da constelação de Órion que
ficava oculta por 70 dias. Naturalmente associaram as estrelas de Órion à Osíris, o deus que lhes
protegiam e de quem obtinham bênçãos. Lá estava ele cuidando de seu povo às margens do Nilo celestial.
A sua esquerda fica a estrela Sírius que viam como sua consorte Ísis, por ser brilhante, bela e seguir
Órion pelo céu. Lá, do reino celestial, eles dominavam a noite e era deles o reino dos mortos.
Durante o dia Rá, o deus Sol, governava a terra dos vivos. Atum, o criador, deixou que Rá o substituísse
ficando como o deus do Sol poente depois dos trabalhos do dia. O mito egípcio da criação descrevendo o
bem e o mal, unindo o céu e a terra é muito bonito mas, o que ele tem haver com as pirâmides?
Observando-se as pirâmides é possível visualizar uma arquitetura religiosa. Se considerarmos outras
arquiteturas religiosas, como as catedrais da Europa, procuramos na bíblia o motivo de terem o formato
de uma cruz. Para entendermos as pirâmides, devemos estudar a literatura religiosa que são os textos
piramidais. É claro que algum sumo sacerdote e arquiteto desenvolveu uma idéia luminosa. Deveria existir
um motivo muito forte por trás dela. Não se inicia um plano de construção para erguer monumentos de 100
metros de altura sem ter um motivo muito forte. Para se ter uma pista do o motivo é necessário ver toda
a área. Normalmente, o Egito é visto tendo o norte como a parte superior mas os antigos egípcios
elaboraram os seus mapas com o sul para cima. O seu mundo olhava para o sul e as estrelas que atingiam
o alto de seu arco ao sul eram o seu ponto de comparação. O baixo Egito de onde o Nilo flui para o
Mediterrâneo fica na parte inferior e o longo e estreito alto Egito fica para cima. As 3 pirâmides de
Gizé construídas pelos faraós Quéops, Kefren e Mikerinos se encontram aqui. Examinemos a primeira e a
maior delas.
Uma rápida análise
A grande pirâmide tem 4 características. Uma câmara subterrânea, provavelmente anterior à pirâmide, a
câmara da rainha, na linha central que até pouco tempo pensava-se ter sido abandonada e uma galeria
que leva à câmara do rei. A grande galeria, com paredes ascendentes e convergentes, é considerada uma
proeza da alvenaria. Na câmara do rei, o teto e as paredes são feitas de granito que dão um eco sagrado
a qualquer ruído. O único objeto na câmara é o sarcófago. Este foi o primeiro sarcófago usado por um
rei; Quéops. A tampa do sarcófago foi destruída e o corpo roubado. Há outra característica estranha.
As entradas dos pequenos dutos quadrados de 20 centímetros foram meticulosamente trabalhadas e tem
uma inclinação angular precisa. Sondar os segredos das passagens é crucial para entender a função da
pirâmide. Nas duas câmaras encontram-se duas passagens, de 20 cm, para o exterior. Uma ao norte da
câmara do rei e outra ao sul. Ambas se estendendo até o exterior da pirâmide. Uma passagem ao norte
da câmara da rainha que não chega ao exterior e cuja entrada estava fechada. E por fim uma para o sul
com os dois extremos fechados.
Há entrada da passagem sul na câmara da rainha, terminava a poucos centímetros da câmara, sugerindo
uma função mais ritual do que prática.
"Em todas estas construções, as passagens foram feitas por razões específicas. Os antigos egípcios
não as fizeram à-toa. Porem, não nos deixaram algo que indique a sua função. Não há planos nem
esboços das pirâmides. Por 80 anos as passagens permaneceram um enigma. Em 1963 um pesquisador
buscou a explicação nas estrelas. Foi solicitado à astrônoma americana Virginia Tremble que
explorasse a idéia de que as passagens apontavam para algo no céu.”
A importância do céu para uma cultura depende do clima. O céu do Egito é muito escuro. A 4000
anos era muito claro. Os egípcios cobriram o teto de muitas tumbas com pinturas mostrando as
constelações no céu, com os nomes dos deuses e as suas representações colocadas entre as
estrelas. Infelizmente estão arranjadas de forma artística e não astronômica. Na maioria dos
casos não se sabe a correspondência com as constelações modernas.
O problema se agrava com o fato de que a posição das estrelas hoje não é a mesma que existia
na época dos antigos egípcios. Isso se dá pelo fenômeno da precessão. Sabemos da rotação da
Terra em seu eixo polar a cada 24 horas. Mas é menos conhecido que os pólos circulam em um
As estrelas parecem viajar pelo céu, nascendo e se pondo com o Sol. O ponto mais alto no
arco noturno de uma estrela fica ao sul e se chama culminação. É esta altura que muda com
a precessão. Viginia Tremble mostrou que a constelação de Órion perde um grau por século,
Não eram muitas estrelas brilhantes que poderiam ser visualizadas através das passagens.
As mais visíveis eram Delta, Epsilon e Zeta Órionis, as mais brilhantes do cinturão de Órion.
O angulo da passagem sul da câmara do rei é de 45 graus. Ao fazer os cálculos sobre a
época da construção da pirâmide descobriu-se que a passagem apontava para o cinturão
de Órion. Que constelações os egípcios viam ainda é um mistério. Tinham um hipopótamo
e ainda não se sabe a quais estrelas ele se refere. Porém existia uma constelação que
representava um homem em pé. O deus Osírirs. A única constelação que parece um homem
em pé é Órion.
A semelhança entre o faraó morto e o deus Osíris fez de Órion a passagem cujo
propósito era permitir que a alma do faraó viajasse entre a Terra e o céu.
Vimos que a passagem da câmara do rei apontava diretamente para o cinturão de
Órion segundo o calculo realizados em 1964 pela astrônoma Virginia. A outra
questão era: para onde aponta a passagens da câmara da rainha? Após os cálculos
e descobriu-se que a passagem apontava para a estrela Sírius, a consorte Ísis.
Foi uma revelação extraordinária.
Esta teoria de alinhamento não foi bem aceita quando apresentada pela primeira
vez. Os pesquisadores Robert Bauval e Adrian Gilbert a apresentá-la não eram
egiptólogos profissionais e a teoria não progrediu. Ainda acreditava-se na época
que a câmara da rainha havia sido abandonada na construção.
A base da teoria estelar encontra apoio nas autoridades modernas do Museu britânico.
Mas o debate sobre a importância das passagens persiste.
Pesquisando as passagens
A quem pense que as passagens teriam uma função meramente prática, a de dutos de
ventilação. Outros, como Bauval e Guilbert, crêem na função ritual que coincide
com o que se sabe sobre as crenças egípcias.
Eram caminhos para as estrelas, para ajudar a alma do rei a unir-se a Osíris e
se tornar um só no reino celestial perto do Nilo celestial. Este é o propósito
ritual mais lógico das passagens.
As passagens de 20 cm só atraíram a atenção dos acadêmicos quando uma equipe de
alta tecnologia comandada pelo engenheiro alemão Rudolph Gantenbrink, foi
contratado para desumidificar as passagens da grande pirâmide, enviou um robô
pela passagem sul da câmara da rainha. Quando o seu pequeno robô começou a
viajar pela passagem ele não tinha idéia do que encontraria.
O robô se chama Upuaut. É muito pequeno porque a passagem é muito estreita.
Tememos fracassar devido à existência de um degrau muito alto no interior da
Na exploração realizada, a 17 metros da câmara da rainha encontraram algo
assombroso. As paredes estavam lixadas e brancas. Mas algo mais extraordinário
surgiu. A câmera mostrou que a passagem estava fechada por um bloco de pedra
com duas alavancas de cobre. Foi encontrado um bloco com duas fendas que tinha
deslizado desde o alto. Foi assim que o vimos. Entre o bloco e o piso havia
uma falha de 5 a 8 milímetros. Aqui vemos um raio laser desaparecer.
Assim como Carter quando descobriu a tumba de Tutancâmon (Tutankhamon), a
descoberta deste robô atraiu a atenção mundial.
Parecia que Quéops tinha decidido construir câmaras secretas em sua tumba
como menciona um papiro conservado no Museu de Berlim. Mas independente do
que se encontrava atrás do bloco que selava a passagem, Rudolph encontrou
pistas importantes que sustentavam as teorias de Bauval e Guilbert. A presença
da porta anula a teoria de duto de ventilação. A decoração indica o seu uso
como parte de um ritual que permitia que se alinhasse à estrela Sirius.
A viagem do robô mostrou que pela primeira vez que a câmara da rainha tinha
uma função importante dentro da pirâmide e que não havia sido abandonada pelos
construtores ao seguir com a câmara do rei. Isto se comprovou porque o robô
subiu acima do nível de construção da câmara do rei, demonstrando que a
passagem havia continuado até o final.
As passagens se alinham com as estrelas. O grau de exatidão é espantoso. A
base da pirâmide está dentro de um minuto de um ângulo. Atualmente, para nós,
seria difícil alcançar tal exatidão. A base da pirâmide tem 230m de largura.
Caminhando-se pelo perímetro são mais de 900m. Obviamente usaram as estrelas
para alinhar seus monumentos e alcançar este alto grau de exatidão. Assim
temos um monumento que expressa uma arquitetura avançada na astronomia.
Enquanto os pesquisadores se convenciam mais e mais da exatidão das
pirâmides de Gizé, começou a surgir um mistério, pois pareciam ser
exatas em todos os aspectos exceto em um.
O alinhamento
Havia algo intrigante sobre a disposição destas pirâmides. Três pirâmides,
uma próxima da outra, todas de proporções quase idênticas estão alinhadas
em diagonal, porém a terceira esta desalinhada para a esquerda. Isso não
fazia sentido. Mikerinos era um faraó poderoso tanto quanto os outros dois
que construíram as pirâmides anteriores. Por que ele construiria uma
pirâmide menor? E por que tão desalinhada em relação às outras duas.
Teria que haver uma explicação.
Sabemos pelos textos piramidais que os faraós se consideravam a última
encarnação de Hórus, filho de Osíris. Ele era visto como um deus vivo.
Depois que um faraó morre como poderia ser deus no céu e na terra como
foi Osíris? A mumificação era parte da resposta pois destinava a preservar
o corpo para a eternidade. As pirâmides pareciam ter ligação com a viagem
dos faraós às estrelas e com sua permanência na terra.
No deserto, Bauval escolheu uma noite muito escura, para poder ver todas
as estrelas em sua glória e para revelar uma descoberta extraordinária em
sua investigação.
"Eu não encontrava uma explicação para a estranha disposição das três
pirâmides de Gizé. Em uma noite estava eu no deserto acampando com alguns
amigos. No meio da noite eu não conseguia dormir. Levantei-me e saí. Um
amigo meu me acompanhou. Ele era marinheiro. Estava me explicando como
encontrar a estrela Sirius no céu. Ele apontou para as estrelas de Órion.
Lá estavam. Três estrelas alinhadas. Ele me explicou que ficavam logo
acima da Sirius e que na verdade não estavam em linha reta. A estrela
superior ficava mais para a esquerda. Foi quando então eu entendi. Por
incrível que pareça a teoria da correlação das pirâmides e o cinturão
de Órion é apenas o início.”
A partir deste ponto procedeu-se a seguinte análise. Começou pelo mais
óbvio. O Nilo. Determinou a posição das pirâmides em relação ao Nilo e
o ângulo que formavam com ele e comparou a posição do cinturão de Órion
com a Via Láctea. Depois observou as duas outras pirâmides da 4ª dinastia,
construídas por motivos desconhecidos a alguns quilômetros de Gizé.
Descobriu através de alguns hieróglifos que a primeira em Aburruoxe,
construida por um filho de Quéops, também tinha o nome de uma estrela.
A segunda foi construída a 5Km de Gizé, Isaoiatilarié. Depois chocou-se
a compará-las a um diagrama estelar. Osíris era a constelação de Órion,
logo Osíris na terra era as pirâmides de Gizé. Os egípcios tentaram
construir nada mais do que o céu na terra.
Estrelas e passagens, mapas e céu podem estar relacionados. Mas o que significa?
Estrelas do norte na posição que ocupavam sobre o Egito na era da
4ª dinastia, há 4500 anos. Os egípcios podiam ver as constelações
do norte, principalmente a Ursa Maior e a Ursa Menor e as consideravam
poderosos sentinelas do firmamento, já que giravam ao seu redor com
regularidade. Outras constelações, tais como a de Órion, desapareciam
70 dias por ano como se morressem. Isso porque o movimento da Terra
em torno do Sol e de si mesma revela diferentes estrelas a cada noite.
Quando voltavam, as estrelas eram bem recebidas pelos egípcios como
se fosse uma alma ou um deus que estivera um tempo longe. Ao amanhecer,
com o desaparecimento das estrelas via-se uma nova estrela que estava
sumida há 70 dias, Era o amanhecer crescente da estrela que renascia.
Os egípcios conheciam o dia deste nascimento, por seu calendário e o
momento exato a observar as estrelas do norte e a posição da Ursa
Maior e da Ursa Menor, como se fosse um gigantesco relógio estelar.
Isto nos traz de volta aos ângulos das passagens.
Parece que as pirâmides de Gizé não eram apenas a representações do
reino dos céus. Era a versão do antigo Egito para o Cabo Canaveral,
midais falam que os faraós viam a si mesmos como descendentes diretos
de Osírirs, o primeiro deus rei e fundador do Egito. Eram a sua
encarnação. Eram deuses e reis. Cada faraó tentava recriar a vida e
a morte de Osíris. Quando cada faraó morria era mumificado com Ísis
fizera com Osíris. Depois recebiam uma máscara semelhante ao rosto de
Osíris. O sarcófago de Tutancâmon é o maior exemplo descoberto até
hoje. Os papiros do Livro dos Mortos, do Museu Britânico, falam dos
rituais de ascensão que se seguiam à preparação da múmia. Eram conhecidos
como "cerimônia de abertura da boca". A consorte e o filho do faraó
deveriam fazer uma vida nova brotar nele. Para isso, deveriam saber o
momento exato. No amanhecer de Órion, o faraó deveria renascer como um
deus. Imagina-se que esta cerimonial deveria acontecer na câmara da
rainha. O filho e a esposa do faraó morto usavam uma ferramenta na
forma da Ursa Menor normalmente construída com ferro de meteorito.
Naquela época, os meteoritos eram a única fonte de ferro. De tempos
em tempos caiam estrondosamente do céu. Para eles era a prova de que
o mundo estelar realmente existia. Esta estranha substancia que não
existia na Terra deveria ser o semêm dos deuses. Chegaram a pensar
que os deuses tinham ossos de ferro.
Quem pode imaginar exatamente o que acontecia? As roupas fantásticas,
a esposa vestida como Ísis e o faraó morto colocado em pé em seu
sarcófago. As estrelas se alinhando com a passagem ao norte. A
constelação de Órion prestes a surgir ao amanhecer e o filho do
faraó, com uma mascara de falcão, pega a pequena ferramenta em forma
de constelação do norte e perfura a boca do faraó e com outra
ferramenta a abre totalmente. Força-lhe a boca, provavelmente
quebrando os maxilares. A boca se abre. O ar entra e o faraó está
vivo, renascido nas estrelas.
A cerimônia de abertura da boca no momento em que Órion ressurgia
fazia uma nova vida brotar no rei morto, O renascimento e a vida
nova era importante para eles. Os deuses reis deveriam ter uma
enorme potencia sexual para poderem fertilizar as deusas. O faraó
tinha outro dever a cumprir com a aparição de Osíris. Tinha de
garantir um futuro herdeiro ao trono para que pudesse receber o
título de Hórus. Para tanto, deveria fertilizar Ísis, sua esposa,
simbolizada pela estrela Sírius. A tarefa seguinte, portanto,
seria colocar o faraó alinhado com a passagem ao sul. Provavelmente
colocariam um símbolo fálico no corpo mumificado, para que antes
de partir para o outro mundo, pudesse fertilizar o ventre de Ísis,
sua esposa mitológica representada pela estrela Sirius.
Acreditavam que após seu renascimento ao amanhecer, Ísis se
transformaria em adulta capaz de conceber ao alcançar o meridiano
sul. Quando as estrelas se alinhavam ao amanhecer e com a passagem
ao sul em frente ao rei, ocorria o momento da fertilização do corpo
de Ísis. Nove meses e meio depois a estrela surgiria no leste ao
amanhecer. A elevação helicoidal de Sirius, como é conhecida. O
grande momento do renascimento. O herdeiro do trono renascera
simbolicamente como Hórus, filho de Ísis.
Os egípcios tinham o cosmos próximo e viam as estrelas como parte
de seu meio. Viam os deuses próximos deles. A fé estava ao seu
alcance e podiam ver o seu destino no céu. De várias formas estavam
muito mais próximos de sua fé e de seus deuses do que nós.
A lenda de Ísis e Osíris explica bem a existência do mundo dos
antigos egípcios. Relata a história do bem e do mal, do renascimento
e da redenção. Provavelmente, em virtude da enorme janela celestial
que se abria diante deles todas as noites. A teoria de Bauval e
Guilbert que incorporou informações obtidas por alta tecnologia
nos ajuda a entender uma antiqüíssima visão do mundo e do cosmos.
E o nosso mundo científico moderno, mesmo com todo o conhecimento
tecnológico, não somos muito diferentes dos nossos ancestrais.
Somos como crianças confrontadas com a criação. Com as mesmas
dúvidas. De onde viemos? Para onde vamos? O mistério continua.
Dezembro de 2008
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